Sereia de Meaípe

Sereia de Meaípe

Conta-se que um navio holandês naufragou na costa do Espírito Santo. Alguns tripulantes se salvaram e, presos aos destroços, foram levados pelas ondas até Meaípe, que era habitada pelos índios goitacás.

Os índios admirados pelos caracteres físicos dos náufragos, seus olhos azuis e cabelos loiros, acharam que eles foram ali pelos "gênios do oceano".

Ofereceram-lhes frutos e mel, deram-lhes rede para repousarem à sombra das árvores tintureiras. Os náufragos foram assimilando os costumes indígenas e acabaram casando-se com as filhas dos chefes (isto explica a sobrevivência estrangeira no tipo de população regional).

Um, porém, antes do casamento, saiu admirando a beleza da paisagem e perdeu-se por haver esquecido o itinerário percorrido. Caía a noite, o holandês cheio de temor, procurava resistir ao sono, quando foi surpreendido pela visão de uma formosa mulher, que emergia das ondas, envolta em sedosa cabeleira.

Vencida a emoção, o jovem convidou-a a sentar-se na areia ao seu lado, mas em evolução graciosa, ela se aproximava e se afastava. Ora estendia-lhe os braços, ora mergulhava para reaparecer mais atraente e bela.

- Por que não dormes? - perguntou-lhe a visão.

- Perdi o sono.

- Vai recuperá-lo - e começou a modular suavíssimo acalanto.

Ao romper a aurora, o jovem despertou embalado ainda pela recordação do que se passara. Olhou em volta e se deparou com um enxame que se alava em busca de provisões de pólen.

Socou umas folhas de pau-d"alho, como aprendera com os índios, untou as mãos e o rosto a fim de que, pelo cheiro as operárias se afastassem, colheu alguns favos que deliciaram.

Após isso, construiu uma palhoça e resolveu que ali ficaria até que decifrasse o enigma da visão no-turna. Ansioso, aguardou que as trevas caíssem e, no céu, pontilhassem as primeiras estrelas.

Longe, eis que ressurge o vulto escultural. - Ela! ... pensou o flamengo. Ela, sim, volteava graciosa à distância.

A pesquisar instintivamente o motivo do afastamento, o jovem relanceia um olhar pelo sítio e descobre, na tranqüilidade da água, duas tochas fixas. Não tremeluziam com os vaga-lumes, nem ondulavam como a faixa do luar, estirado na água. Misteriosos pareciam devorá-lo!

Ao pio de uma coruja, logo sucedeu o anúncio do bacurau:

- Amanhã, eu vou! Amanhã, eu vou!...

Enlevado, atônito, sente-se arrastar-se para as franjas da praia. Vai, vai, magnetizado pela fixidez daqueles olhos, em ignição, enquanto a mãe d"água, faminta, se enroscava a seu corpo jovem.

Ignorava, porém, que já se lhe abraçara o coração, pela chama do amor. Não poderia ser devorado, porque se prendera à melodia da voz e à beleza helênica de uma sereia!

Para vingar-se, então, da própria derrota, a mãe-d"água arrasta-o até o lago e invoca a Tupã que o transforme em pedra.

Desde essa noite, quando as trevas descem à terra, cintilam as estrelas e as aves noturnas emitem os seus lamentos, vem a Sereia de Meaípe cantar a melodia da saudade sobre o monumento do seu amor!

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